quarta-feira, 4 de março de 2009

A recusa da Petrobrás em patrocinar o Manchester United

Circulou hoje nas páginas esportivas dos grandes jornais a notícia de que a Petrobrás negou patrocínio ao clube inglês Manchester United.

Apesar da minha profunda paixão por futebol, esse não é um tema recorrente à este blog, mas acho importante utilizar esse episódio para algumas reflexões sobre o papel das empresas públicas na sociedade.

As empresas públicas - estatais - tem um importante papel a desempenhar nas políticas públicas vinculadas ao esporte e sua dimensão inclusiva.

Muitas estatais patrocinam muitos projetos ligados ao esporte. Existem patrocínios que tem sua orientação ligada à política de Responsabilidade Social, outros patrocínios tem sua orientação ligada, basicamente, ao marketing. A CGTEE, pertencente ao ministério de Minas e Energia, por exemplo, patrocina o time de futebol da ACERGS (Associação dos CEgos do Rio Grande do Sul). Isso está ligado à uma política de inclusão social aos portadores de deficiencia visual através de práticas esportivas. Já a Petrobrás, patrocina o time de futebol do Flamengo e, até recentemente, patrocinava o combustível de algumas equipes de F-1. Ambos são patrocínios de marketing. No caso do Flamengo, a divulgação e fortalecimento da marca Petrobrás. No outro caso, a divulgação - quase como amostragem - do seu produto. Ao fornecer combustível para equipes de F-1 a Petrobrás fortalece a credibilidade da gasolina que fornece aos seus compradores.

A política de fornecer gasolina à F-1 é inquestionavelmente positiva. O Patrocínio ao Flamengo deixa dúvidas. Talvez fosse o caso de patrocinar as equipes de remo, atletismo e ginástica do clube, essas sim, categorias carentes de patrocínio. Ou então patrocinar divisões inferiores dos campeonatos estaduais de futebol, o que elevaria a qualidade dos certames. Ou então patrocinar competições de esportes olímpicos, ampliando o grande trabalho que já é realizado pelo Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, outras estatais federais. Bom para o esporte, bom para o Brasil, que tem, aí, um de seus pilares de "correção" das desigualdades vigentes.
Mas, ainda assim, o Flamengo é um clube brasileiro, cumpre uma função local importante, sob o ponto de vista da inclusão social, uma vez que muitos jovens em situação de risco são incorporados à rotina do clube através das categorias de base.

E o Manchester United? Bom, pra começar, o clube é inglês. Nenhuma relação com o Brasil. A atual patrocinadora (a falida AIG) destina o equivalente a R$ 81 milhões anuais ao clube. Não haveria sentido em empregar capital de uma empresa pública, ainda mais nesse montante, à um clube que fica na Inglaterra e que é considerado um dos mais ricos do mundo.
Com essa verba, se fosse o caso de gastar isso com patrocínio, seria possível destina-la à pelo menos 10 equipes intermediárias do Brasil. Ou então, subsidiar hospedagem e deslocamentos aéreos à todos os clubes que disputam as séries B, C e D do Brasileirão (nesse caso, seria gasto 1% desse recurso).

E assim, sucessivamente, podemos pegar uma série de outros exemplos de melhor emprego do dinheiro da Petrobrás, mesmo dentro da mesma linha de destinação.
Não sou contra empresas públicas patrocinarem esportes de alto-rendimento como F-1 e futebol. Mas o investimento tem que se justificar de alguma maneira. E no caso do Manchester United, não haveria justificativa. Acertou a Petrobrás.

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