NUBIA OLIIVER: "TODA MULHER SOFRE ALGUM TIPO DE VIOLÊNCIA"
Ainda dentro da pauta da campanha de ativismo digital pelo Fim da Violência Contra a Mulher, e após conversar com o mundo das amantes profissionais - vozes amordaçadas e condições femininas muitas vezes esquecidas nos calabouços labirínticos do preconceito e do rótulo - fui atrás das mulheres do mundo das celebridades, cujas vozes não parecem ser menos amordaçadas e suas condições femininas não menos esquecidas.
Em comum as mulheres desses dois universos tem a rotulagem de suas profissões que sobrepõem-se muitas vezes às suas condições humanas, femininas, de mulheres com direitos, sonhos, desejos.
Meu bate-papo desta vez é com a mineira Nubia Oliiver, modelo, apresentadora de TV, empresária pecuária e mãe de uma menina de 7 anos:
Mirgon Kayser - Gostaria de começar pedindo para que tu nos fale um pouco sobre a violência contra a mulher nesse universo das celebridades. Algumas pessoas ligam a violência contra a mulher à pobreza e a baixa escolaridade dos agressores, principalmente no que tange a violência doméstica. Entretanto, o que se vê diariamente é que a violência não vê fronteiras de classes sociais, escolaridade, raça ou religião. Nos conte um pouco sobre a forma como a violência contra a mulher se manifesta entre as celebridades.
Nubia Oliiver - Se manifesta da mesma forma, mas há uma pressão maior para acobertar os casos. O cuidado com a imagem entre as celebridades é algo mais preocupante, é preciso sempre manter uma certa aura de felicidade para que o público em geral continue acreditando no que quer ver de seus ídolos. É mais difícil lidar com essa quebra de paradigmas. Mas há muitos casos. Não é muito diferente do que encontrando na sociedade em geral. Há homens que sempre tratarão as mulheres como objetos inferiores, seja ele um trabalhador comum ou um grande empresário.
Mirgon Kayser - Tu já sofrestes algum tipo de violência?
Nubia Oliiver - Já sofri, sim. Acredito que toda mulher, em alguma etapa da sua vida, sofre algum tipo de violência, seja sela física, moral, emocional ou social. Eu considero uma violência, por exemplo, rotular alguém de fútil, inútil e burra. Ou menosprezar o pensamento apenas porque uma mulher optou por usar sua beleza como trabalho. Preconceito também é uma forma de violência. E sempre há quem leve esse preconceito ao extremo.
Nubia Oliiver - De forma normal mas com repúdio. Um homem que agride uma mulher faz isso por precisar se sentir maior do que ela. E só consegue se for fisicamente. E se ele parte para a agressão é porque já é um ser inferior, de fato. Somente um covarde se rebaixa a esse ponto de precisar se garantir fisicamente. Os grandes homens vencem nos argumentos, no diálogo, no respeito às diferenças.
Mirgon Kayser - Não sendo a violência contra a mulher uma questão meramente econômica, um efeito colateral da pobreza, de que maneira ela pode ser efetivamente erradicada de nossa sociedade? Qual o papel de cada um de nós, homens e mulheres comuns, na luta pelo fim da violência contra a mulher?
Nubia Oliiver - Não podemos nos acovardar pois não há motivo para isso. Quem precisa se envergonhar são os agressores e aqueles coniventes com os atos deles. Sei que muitos fatores pesam para a mulher vítima de agressão: a vergonha, o medo, a falta de compreensão, a falta de apoio social e abrigo emocional. Precisamos parar de julgar os motivos da agressão... Sempre usam como desculpa "ah, ela provocou" como se isso fosse justificativa. Nada justifica uma violência. Nenhuma mulher pede para ser espancada, estuprada, violentada moralmente. Falta acolhimento de todos os lados. A luta não é apenas contra os monstros que batem: é uma luta à favor da vítima, sempre! Triste da sociedade que fecha os olhos para isso.
4 comentários:
Parabéns, Mirgon, achei incrível a entrevista!
3 de dezembro de 2010 às 09:36A Núbia abordou pontos importantes, entre os quais eu destacaria a inocência da mulher em caso de agressão. Conforme foi dito por ela,"Nada justifica uma violência", Nenhuma atitude da mulher justifica uma violência, seja ela qual for. Fui vítima de um tipo de violência muito comum nos dias de hoje. Com o crescimento e aumento na popularidade das redes sociais, casos como o meu têm sido frequentes. Fui molestada psicologicamente por um homem que se dizia atraído e apaixonado por mim. No meu dia-a-dia, ainda sofro com as conseqüências do trauma emocional que ele me causou, mas não me calei. Divulguei suas atitudes, inclusive para amigos em comum, com provas daquilo que ele me fazia passar. Infelizmente, as pessoas ao redor, têm um cômodo discurso de "não tenho nada a ver com isso" ou ainda "eles que se entendam". A maioria daqueles que está ao nosso redor, inclusive parentes e familiares, têm medo de se envolver num caso de violência/agressão contra a mulher. Quando muitas vezes, o que leva a vítima a se acovardar é a falta de apoio e confiança daqueles em que ela acreditou que pudesse contar. Isso de certa forma estimula a idéia de que ela teria uma parcela de culpa pelo que está sofrendo, por mais que tente se convencer do contrário.
Precisamos entender que a violência contra a mulher, é uma violência conta a sociedade, contra nossas mães, irmãs, filhas, esposas, pessoas a quem dizemos amar, e que afeta diretamente aos homens.
Digo às amigas, e a toda e qualquer mulher se sinta violentada, agredida, desrespeitada de qualquer forma: NÃO SE CALE! Se calar, é dar cobertura ao agressor e isso não podemos fazer jamais.
No twitter: @TTBFree
Mirgon , muito boa a entrevista, até pra mostrar que a violência contra à mulher não somente uma coisa direcionada à falta de cultura ou falta de condições financeiras ...Ela está inserida no "maucaratismo" de quem o faz. Parabéns à vc e à Nubia ...
3 de dezembro de 2010 às 14:09Muito boa entrevista.
3 de dezembro de 2010 às 20:40O que prova o que sempre afirmamos, a violência contra a mulher é o fenômeno mais democrático que existe, pois atinge todas as classes, raças/etnias, idades ou religiões.
A Central de atendimento à Mulher Ligue 180, alcançou 1 milhão e meio de ligações este ano.
A Pesquisa Perseu Abramo irá pulicar a sua mais recente pesquisa (lembram daquele dado de que a cada 15 segundos uma mulher é agredida no Brasil?), esta pesquisa foi de 2000 lançada em 2001, a de agora dá conta de que a cada 24 segundos uma mulher sofre algum tipo de violência no Brasil...
Parabéns pela iniciativa.
Ane Cruz.
Feminista
Coordenadora Geral de Ações Preventivas e Garantias de Direitos da Secretaria Nacional de Enfrentamento à Violência contra a Mulher - SPM/PR.
Parabéns pela entrevista. Depois de mim a nubia é a mulher mais bonita do brasil. e com cerebro! bjokas
4 de dezembro de 2010 às 14:33Postar um comentário