sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Obama tomou posse. E agora?

Passada essa fase da total euforia que perpassou todos os continentes do nosso planeta, é no pós-posse de Obama, ou seja, o início de seu mandato, que devemos nos debruçar.

As primeiras medidas de Obama demonstram que Obama está disposto a mudar os rumos de seu país. Apesar da inesperada manifestação em defesa da ocupação israelense na Faixa de Gaza, Obama segue resoluto quanto ao fechamento de Guantánamo. Além disso, a Casa Branca segue acenando com melhores dias em sua relação com Cuba.

A maior agenda do mandato de Obama não será "fazer coisas novas", será "fazer diferente coisas antigas". Devolver Iraque e Afeganistão aos seus respectivos povos é outra medida fundamental, assim como renegar, publicamente, a expressão "eixo do mal" cunhada por seu antecessor, George W. Bush.

Iniciar uma limpeza nas relações internacionais, incluindo aí, sua relação com Cuba, Irã, Paquistão, Venezuela, Coréia do Norte, China e Rússia, precisam estar no topo das prioridades, para que haja um progressivo destensionamento bélico ao redor do mundo. Não resolve, mas melhora muito.

Fora isso, Obama terá pela frente o enfrentamento da crise. Crise econômica? Não. Crise mundial. Apesar da cobertura e preocupação existente com relação à atual crise do capitalismo, não é ela o verdadeiro problema.

Hoje, consumimos 40% a mais em recursos do nosso planeta. Nunca fui o melhor aluno da classe quando o assunto eram números, mas não é muito difícil concluir que não há engenharia possível para a manutenção desse consumo, exceto a readequação do padrão de produção e consumo mundiais.

Obama governa, desde terça-feira, um dos maiores poluidores do planeta e o maior consumidor de recursos. Isso significa que essa é uma pauta mais do que sua. Não adianta o mundo se mobilizar para salvar-se enquanto os Estados Unidos continuarem com a mesma postura de sempre. Digo salvar-mo-nos, porque não é o planeta que precisa ser salvo, somos nós mesmos.

A Terra é muito mais forte e vigorosa do que a humanidade. Somos parte da Terra, não somos algo à parte. Somos a rede neural da Terra, a consciência racional de seu corpo planetário. Esse é o nosso papel, essa é a nossa função. Deveriamos co-existir entre nós mesmos e existir como células inteligentes da Terra, numa relação simbiótica, mas, ao invés disso, agimos como um câncer, numa existência desordenada, caótica (de completa negação à simbiose necessária).

Se não houver uma mudança real no nosso "contrato social e existencial", não adiantará corrigir os problemas da economia, pois a própria correção, dentro da mesma estrutura, será mais um passo para que a Terra nos extirpe de sí, tal e qual faz-se com um câncer.

Talvez, de todos os problemas que Obama enfrentará, o principal deles é justamente esse, que envolve, ao mesmo tempo, preservação e reconstrução ambiental; resolução da exclusão social (que também é um grave problema ambiental) que os Estados Unidos ajudam a perpetrar no mundo; e a mudança paradigmática das relações de trabalho num mundo inevitavelmente fadado a automatizar os setores produtivos.

Obama tem consciência dessa problemática. É um presidente com largo histórico no diálogo com os "verdes", como são chamados os ambientalistas. Isso não resolve, mas é um indicativo de que pode haver solução.

O mundo contemporâneo aprendeu a ver os Estados Unidos como uma águia imperialista com voracidade suficiente para destruir o mundo. Talvez Obama inaugure uma nova relação de seu país com o mundo, onde os Estados Unidos possam ser vistos como um país enteressado em corrigir os erros e colaborar na preservação do sistema-Terra.

Faço parte da enorme parcela que vê com muita reserva tudo que vem dos Estados Unidos. Faço parte daqueles que o veem como a águia imperialista. Obama, através de seus discursos e suas primeiras ações, ganhou minha simpatia. Talvez Obama possa desfazer, através de muito trabalho, essa imagem. Talvez.

Se Obama estiver disposto, terá o auxílio de toda a comunidade internacional. Inclusive o nosso, os anti-imperialistas.

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