POR UMA NOVA ONU DE TODAS AS NAÇÕES
Lula cobrou debate na ONU sobre a crise nas Malvinas. Lula apresentou críticas pertinentes ao organismo internacional, durante a Cúpula do Grupo do Rio, no balneário mexicano de Playa del Carmen.
Lula afirmou que "não é possível que a Argentina não tenha soberania sobre as Malvinas e que esse direito seja exercido por um país a 14 mil quilômetros de distância. Qual é a explicação política das Nações Unidas para que não tenham tomado uma decisão? Será o fato de a Inglaterra participar como membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas a razão para que eles podem tudo e os outros não podem nada? É necessário que comecemos a lutar para que o secretário-geral das Nações Unidas reabra este debate com muita força dentro das Nações Unidas. Não é possível que as Nações Unidas continuem com um Conselho de Segurança que seja representado pelos interesses políticos da Segunda Guerra Mundial, que não levem em conta todas as mudanças que ocorreram no mundo. A ONU se distancia e os países individualmente se ocupam de seus assuntos, porque a ONU perdeu representatividade".
Esse foi a análise conjuntural de Lula e, na minha opinião, pra lá de acertada. Lula diz para o mundo inteiro ouvir - literalmente - o que muitos, a muitos anos avaliam que venha sendo o papel da ONU. O que Lula faz, na realidade, é colocar na mesa a opinião de boa parte da esquerda mundial sobre o organismo.
Em primeiro lugar, a ONU precisa sair, urgentemente, de solo estadunidense. Não é possível que o grande organismo de relações entre os Estados em torno do mundo esteja sujeito à restrições legais pertinentes à apenas um signatário. O prédio da ONU é um território internacional, mas para chegar lá é preciso receber autorização para entrar em solo dos Estados Unidos.
Em segundo lugar, os países que são membros da ONU devem ampliar suas relações bi-laterais com países e blocos fora da América do Norte. Uma das razões para esse comportamento policialesco dos Estados Unidos no mundo é justamente sua influência e dominação econômica e militar.
O mundo deve dizer não à isso e sim a ONU, mas uma ONU de verdade, não esse imbróglio que está aí colocado à décadas. A política externa brasileira é a melhor prova de que aquilo que nos parece ser, muitas vezes, apenas está. As mudanças que vem ocorrendo globalmente, em geral, tem alguma participação dessa política externa brasileira.
O Brasil foi responsável por uma mudança na geografia política da América Latina. As abundantes experiências de esquerda (depois de um século XX de ditaduras de direita) por todo o continente é fruto, em parte, da eleição de Lula. Evo Morales na Bolívia, Hugo Chaves na Venezuela, Tabaré Vasquez e, recém eleito, Pepe Mujica, ambos no Uruguai, Rafael Correa no Equador... Todas são vitórias de esquerda na América Latina, todas influenciadas por Lula.
O Brasil é responsável direto, junto com a China, Rússia e Índia, pela construção do G-20, que vem, paulatinamente, aglutinando força e importância. O G-20 deverá, ao meu ver, "engolir" politicamente o G-8 por completo nos próximos anos.
Antigamente o G-8 era a voz do poder mundial. Com as relações "sul-sul" que tanto a mídia tupiniquim bateu e tentou desmoralizar, dizendo que era perda de tempo não priorizar a relação com os Estados Unidos, o mundo passou por algumas mudanças de concepção. Hoje os países do Hemisfério Sul, da Ásia e da África não querem esperar o G-8 e sua voz divina. Hoje, os países começam a apostar no G-20, muito mais amplo, representativo e democrático.
Toda essa re-concepção das forças políticas mundiais precisam, agora, ser giradas para a construção de uma nova ONU, mais ampla, representativa e democrática.
Ah, sim... E independente dos desmandos de qualquer dos países-membros.
1 comentários:
Caro Mirgon,
26 de fevereiro de 2010 às 03:46Legal o seu blog. Gostei desse texto. Sou suspeito nessa manifestação, por manter um site, o PENSE - Pensamento Social Espírita [www.viasantos.com/pense], voltado para a temática social.
A posse inglesa das Malvinas é um dos últimos redutos do arcaico imperialismo, que dividiu a África, o mundo e, aqui, em nosso gogó, ainda os ingleses insistem por "direito internacional", com a conivência da ONU, em manter esse reduto imperialista.
Se os "ingleses" que lá moram preferem que a autonomia inglesa seja mantida, ora, vão lá para a Inglaterra, morar lá, distante milhares de qulômetros da região.
Não há mais sentido em se manter essa posse histórica, apenas por uma questão econômica, de geopolítica, já que a região é estratégica, apesar da "desculpa" ocupacional dos antigos caçadores de baleias e focas na região. Os Estados Unidos sempre fizeram vista grossa para isso.
É a primeira vez que vejo um governo brasileiro se manifestar publicamente pela autonomia da região aos argentinos. Eles, apesar de serem ruim de bola e de churrasco (rssss, é brincadeira), merecem o nosso apoio.
Apenas não concordo que a sucessão de governos de "esquerda" na América Latina tenha uma relação de causa e efeito com a eleição de Lula. Aí entramos no lulismo. Acho que a análise passa por outras variáveis, pela história peculiar desses países e pelo fato de todos eles terem tido, como em nosso país, uma repressão histórica, uma sucessão de governos reacionários, autoritários, principalmente no período da Guerra Fria. A consequência disto está aí. Os milicos que se cuidem. Os porões da ditadura militar de todos os países latino-americanos precisa ser devassado.
Penso que há equívocos como na Venezuela, que tem um Chavez no poder, que é um pretenso genérico do Fidel, um sujeito extremamente vaidoso, egocêntrico, autoritário, dublê de stalinista, mas que, em meu entender, sou mais ele do que qualquer um direitão venezuelano no poder.
Gostei mesmo do seu texto. Valeu.
Abração
Eugenio Lara
São Vicente-SP
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