sexta-feira, 2 de abril de 2010

A VERGONHA DE TODOS NÓS

Dias depois de publicar um balanço dos dois anos deste blog no ar, onde sempre dei muita atenção ao que diz respeito ao ser humano - sobretudo os direitos humanos e nossa própria falta de humanidade - sou surpreendido, hoje, em plena sexta-feira santa, dia tão importante para a reflexão dos cristãos, com o tipo mais nojento e desprezível de violência - aquela que vem do puro prazer sádico.

Um morador de rua foi humilhado, tendo seu corpo pichado com tinta de spray na cor prata. Em seguida um homem urinou em seus pés.

Quando se toma conhecimento deste tipo de acontecimento - que a imprensa chama de "vandalismo", não de violência - a sensação é de que se esvai nossa própria humanidade. Esses jovens seguiram em seus carros para a Cidade Baixa na sequência. Vale parguntar se a noite que se seguiu foi mais divertida após cometerem essa brutalidade.

É impossível não remeter nossa lembrança ao caso do índio pataxó queimado em Brasilia por jovens de classe média alta a alguns anos atrás.

A semelhança do que move ambos os crimes - embora consequencias muito diferentes - nos faz pensar o quanto de nós segue preso aos períodos mais tristes da constituição de nossas próprias humanidades.

A agressão a este morador de rua não é um ato isolado de um grupo de imbecis, mas a falencia mesmo de toda a humanidade. Cada vez que uma agressão sádica como esta acontece, são as víceras de nossa própria ética que são expostas.

A imprensa que chama os agressores de "vândalos" estará muito distante daquilo que compõe a formação ética dos agressores? Chamam pela mesma alcunha que chamam aqueles que depredam patrimônios. Isso não é o indício inicial da forma como nossa desumanidade determina que esses pobres infelizes relegados à sub-existência sejam tratados mesmo como "pingentes nas avenidas", como diz acertadamente a canção nativista Desgarrados, de Joca Martins?

Nesse caso, porque não pixá-lo como fazem nos muros, ou urina-lo, como fazem nas árvores?

Não trata-se somente de identificar e prender os responsáveis. Trata-se disto, mas trata-se também de visitarmos os recônditos de nossas existências, nossos espíritos e identificarmos o quanto de nós é como eles, o quanto de nós pensa como os que queimaram o pataxó ou como os que pintaram e urinaram o morador de rua.

Trata-se nos envergonharmos todos pelo que aconteceu, pois esta noite, foi a humanidade toda que se perdeu numa lata de spray e num jato de urina.

Trata-se de nos perguntarmos todos: Por que somos assim?

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