sábado, 9 de outubro de 2010

A FALSA CONTRADIÇÃO DE DILMA SOBRE ABORTO

Capa de Veja esta semana, as especulações, interpretações e má-fé acerca da opinião de Dilma sobre o aborto é a grande tábua de salvação onde segura-se José Serra e a direita brasileira.

Antes de mais nada é preciso salientar que as duas posições apresentadas por Dilma nada tem de contraditórias. E possível sim, ser contra o aborto e ao mesmo tempo defender o debate maduro sobre o tema, sem esconder a cabeça como um avestruz, como se a solução fosse proibir e fazer de conta que abortos não acontecem no país.

Abortos clandestinos são a segunda causa de morte de mulheres em SP, estado de José Serra. Na Bahia, nada mata mais mulheres do que essa prática. Um detalhe importante: praticamente TODAS essas mulheres são pobres. Afinal de contas, as mulheres que possuem dinheiro praticam abortos com toda a higiene, segurança e cuidados de clinicas particulares.

Para as mulheres ricas, tanto faz se o aborto é legal ou ilegal: Elas farão se quiserem e com o mesmo conforto, independente da legalidade. Já às mulheres pobres acabam abortando com ferros e cabides retorcidos ou em clínicas clandestinas, sem as mínimas condições de higiene, colocando suas vidas em risco, como mostram os dados no pais.

Portanto, não trata-se de ser favorável ao aborto ou não. Trata-se, sim, de não virar as costas para um problema que existe. Independente de classe social, milhares de mulheres praticam o aborto no Brasil todos os anos. Isso não pode ser simplesmente ignorado.

O debate sobre o aborto infelizmente é feito de forma absolutamente teológica, ou seja, baseado nas crenças individuais e religiosas de cada um. Confesso que jamais concordaria que um filho meu fosse abortado, mas isso é a MINHA opinião e MINHA decisão pessoal, baseado nas minhas crenças como espírita. Agora, nem eu, nem outros espíritas, nem católicos, nem protestantes, nem muçulmanos, nem evangélicos nem nenhuma religião no Brasil tem o direito de determinar a organização das regras do Estado, que deve ser laico e INCLUSIVO sob o ponto de vista da diversidade religiosa - e também que inclua o ponto de vista ateu, que tem tanto direito a não acreditar em Deus quanto eu de acreditar.

O fato de discriminalizar o aborto não obriga ninguém a realizá-lo. A descriminalização do aborto não ofende em nada nenhum praticante de nenhuma religião. Um católico seguirá não realizando o aborto a que ele se opõe. Em nada mudará na vida das pessoas que não desejam realizar aborto, assim como nada mudará na vida da mulher rica que pratica o aborto. Na prática muda somente pra mulher pobre, a única que sofre com a proibição do aborto

Dilma me parece muito clara em suas posições: Afirma-se contra o aborto, ou seja, não faria o procedimento nem incentiva nenhuma mulher a fazê-lo, mas tem consciência de que o tema da descriminalização precisa ser enfrentado para que o Brasil possa produzir politicas públicas de qualidade e que deem respostas à esse problema que mata tantas mulheres no país.

O que Serra faz - através de sua campanha, da Veja e da Folha - é irresponsavelmente abordar o assunto de forma sensacionalista, moralista e embarcando de forma oportunista na onda teológica de não debater o aborto de forma séria.

Para Serra, como está está bom. Para mim, o sangue de tantas mulheres pobres derramado em clínicas clandestinas de aborto não está bom. Quero políticas públicas em saúde específicas para evitar que as mulheres sejam levadas ao aborto, e se chegar a ele, que seja assistida pelo sistema de saúde como paciente, não pela polícia como criminosa ou pela morte como lixo humano.

Para que as mulheres desse Brasil tenham direito a assistência em saúde pública e o Estado seja laico, dando a todos o direito de exercer suas próprias convicções, sem ser submetido às convicções religiosas alheias, quero Dilma Presidente.

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