terça-feira, 5 de outubro de 2010

UMA SEGUNDA CHANCE PARA MARINA

Marina Silva saiu do PT decidida a concorrer à presidência da república. Tivesse Lula lançado Marina ao invés de Dilma, a senadora não teria optado pela saída do partido. Esse é o início do debate eleitoral envolvendo Marina. De certa forma, essa eleição foi marcada pelo desejo pessoal e inconfessável de Marina derrotar Dilma, a exemplo do desejo inconfessável do PSOL derrotar o PT.

Marina é uma ambientalista, mas sobretudo e antes de mais nada, uma mulher talhada na superação das dificuldades e no enfrentamento com as elites, uma mulher oriunda das camadas mais sofridas da população brasileira. Além de pobre, analfabeta até os 19 anos, Marina tem sua história política no Acre, estado onde não existe "terceira via", "meio-termo", nada. Um estado onde a disputa sempre se deu de forma muito polarizada entre os lutadores sociais/ambientais e os grandes poderosos da região.

O PV nunca foi um partido de esquerda, embora nunca tenha sido um partido de direita. A verdade é que o PV é um partido politicamente gelatinoso. Nem afirma-se como esquerda, nem como direita. Tampouco é possível tirar conclusões individuais sobre o tema, uma vez que o partido não possui posições claras sobre nada. É uma espécia de "partido auxiliar", ou seja, depende da construção de aliança com partidos que possuam um programa definido para a sociedade. A partir disso, inclui suas premissas de preservação ambiental no projeto do aliado.

O PV sequer apresenta uma plataforma de desenvolvimento sustentável. O PV possui somente premissas preservacionistas - o que é somente PARTE do debate ambiental. Escrevi, algum tempo atrás o texto "UM PROGRAMA ECOLÓGICO É URGENTE" onde afirmo a importância, a necessidade do debate e alguns caminhos possíveis para o desenvolvimento sustentável. Esperava que Marina, como candidata a presidência da república fosse dar um corpo mais qualificado ao projeto do PV para a sociedade, com mais clareza de posição sobre nossa organização social, desenvolvimento sustentável, etc...

Minha decepção foi não ver nada disso. Marina optou pela pauta moralista, pela alimentação de boatos, e outras práticas sensacionalistas. Não tive a oportunidade de vê-la falando sobre um projeto de escala nacional para o aproveitamento das energias eólica, solar e de ondas marítimas. Não tive a oportunidade de vê-la propondo que o Brasil negocie com as grandes montadoras a instalação de plantas industriais que produzam um modelo de carro elétrico, que já está virando realidade em muitos países europeus.

Infelizmente, não tive a oportunidade de ver Marina propor que o Brasil amplie os investimentos em infra-estrutura urbana, de remodelação da rede férrea nacional ou ainda, propondo formas consistentes de combate a pobreza a partir da geração de emprego, renda e distribuição das riquezas nacionais.

Tudo que vi, foi Marina repetir o mantra da preservação, sem apontar como mudar o modelo de desenvolvimento que possuimos. É falso o debate sobre desenvolvimento X meio ambiente. O debate que precisa ser feito é sobre como MUDAR o modelo de desenvolvimento para um modelo que seja sustentável. Tornar o modelo sustentável não é simplesmente consumir ou produzir menos, e sim, consumir e produzir melhor.

Quando pensei ter me decepcionado com a ambientalista, veio a decepção com a lutadora social. Quando surgiram os boatos, a guerra na mídia, o apoio da Folha de São Paulo à Serra, as capas ignóbeis de Veja, etc, torci para que Marina deixasse falar mais alto a responsabilidade de classe.

Marina é mulher do povo, Marina diz  ter compromisso com esse povo. Isso, para quem vem do Acre, significa lutar contra as oligarquias, contra as elites, contra os poderosos.

Realmente pensei que Marina fosse assumir um papel mais críticos sobre os boatos, que tivesse a consciência do que representava para a luta contra as elites, derrotar o PSDB e o principal quadro da direita brasileira ainda no primeiro turno. Dilma vencer no primeiro turno era, também, uma vitória de Marina, pois isso seria a grande vitória do povo contra as elites.

Meu engano foi não contar com a vontade de Marina derrotar Dilma. Marina quis demonstrar sua força e partiu para uma ofensiva moralista, sensacionalista e demagógica, como talvez nem Serra tenha conseguido fazer. Tudo para derrotar Dilma, nem que a derrota de Dilma fosse, simplesmente, obrigá-la à um segundo turno com Serra. Marina abandonou a pauta ambiental e passou a ser o eco que Serra precisava para dar ares de veracidade à sua agenda de boatos, seus golpes sujos e, porque não, golpistas.

Tivesse Marina seguido seu papel ambiental, os chiliques golpistas de Serra teriam virado pó, o mesmo material que produziu os boatos.

O resultado desse segundo turno é a reorganização da direita brasileira, que batia cabeça até 30 dias atrás. A vitória em primeiro turno seria a grande vitória histórica do povo contra os poderosos. Infelizmente, Marina acabou fazendo o papel de salvadora da direita brasileira, a tábua de salvação para as elites nacionais.

Até mesmo Arthur Virgílio, grande articulador da oposição contra Lula foi derrotado nas urnas, em dezembro desocupa o gabinete de senador. Mas Marina salvou Serra e, salvando Serra, salvou as elites do fiasco e permite agora sua reorganização.

Agora, no segundo turno contra Serra, espero que Marina deixe falar mais alto que suas vaidades e de seus desejos pessoais de derrotar Dilma, o compromisso que sempre teve com os pobres, os trabalhadores, o povo, contra as elites representadas por Serra.

Marina esqueceu desse compromisso ao construir o segundo turno. Espero que agora Marina abra apoio à Dilma e faça desse segundo turno uma segunda chance de mostrar que não estavamos errados e que ela realmente tem compromisso com aqueles que ela sempre afirmou defender.

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