sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

O CINISMO DOS ESTADOS UNIDOS

Em pronunciamento feito após a queda de Hosni Mubarak, Barack Obama demonstra todo o cinismo e capacidade de manipular a realidade dos fatos.

Os Estados Unidos não tiveram qualquer participação na queda de Mubarak. Pelo contrário, seu governo sempre pronunciou-se a favor da estabilização do governo, de reformas de mudança econômica (mas nunca falaram em mudança de governo ou reformas políticas) e ficou por aí. Agora, depois do povo derrubar Mubarack, Obama vem à público parabenizar a força do povo e defender, de forma vazia, a liberdade e a democracia.

Conhecem o ditado "vão-se os anéis, ficam os dedos"? Parece que esse é o centro da estratégia dos Estados Unidos agora, com relação ao Egito. Os anéis, ou seja, o regime capitaneado por Mubarak, foi-se. Agora a energia deve ser focada na preservação dos dedos, ou seja, na preservação da parte do regime que não caiu.

Quando um ditador governa por 30 anos, é evidente que ele não governa sozinho. Na realidade, ele é só a expressão do poder. Muitos outros níveis e fatias do poder fragmentam-se em outras mãos. Apesar de Mubarak ter saído, a maior parte destas outras mãos permanecerão no poder - inclusive na junta militar que controlará o país até a eleição.

Mubarack em pronunciamento afirmou que farão "o que for preciso para assegurar uma transição que seja aceitável ao povo egípcio e preparar o caminho para a democracia". Como assim? Eles assegurarão transição no Egito? Eles vão preparar o caminho para a democracia?

Em primeiro lugar, se os Estados Unidos apoiassem verdadeiramente a democracia no Egito, teriam se posicionado desde o início ao lado dos manifestantes. Na verdade, eu nem entendo exatamente a necessidade do Barack Obama fazer algum pronunciamento além do lançamento de uma pequena nota.

O Egito deve fazer sua transição da forma que tiver que fazer, mas de forma soberana. Cada país tem um compasso, cada país tem uma forma de se organizar, independente daquilo que pensamos sobre eles. Se os egípcios permitirem a participação dos Estados Unidos nesse processo de transição, corre-se um risco ainda maior de que o próximo governo seja formado por sobreviventes do regime Mubarak.

Antes de pensar na democracia e no bem-estar do povo egípcio, os Estados Unidos estão preocupados muito mais com o petróleo, o controle do Canal de Suez e a fronteira do Egito com o campo de concentração Faixa de Gaza, onde os israelenses mantém os palestinos em cativeiro. Aliás, porque é mesmo que os Estados Unidos não interferem nesse cativeiro? Ah, sim, me lembrei! É que Israel é um importante parceiro dos Estados Unidos - e os amigos podem!

Durante 30 anos os Estados Unidos puderam ajudar na construção de caminhos que pudessem tornar o Egito um país democrático. Não o fez por interesses próprios - controlavam Mubarak. Agora, depois que o próprio povo decidiu que já era hora de Mubarak sair, Obama vem falar no papel dos Estados Unidos na construção da democracia? 

O povo egípcio mostrou que não precisa que lhes indiquem o caminho da democracia. Eles mesmo estão construindo e iluminando esse caminho.

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