quinta-feira, 10 de março de 2011

PELO BEIRA-RIO DOS COLORADOS E PARA OS COLORADOS!

Antes que alguém afirme tratar-se de "papo de gente que é contra a gestão", eu fui um dos milhares de colorados que acreditaram e apostaram no nome de Giovanni Luigi na presidência do Internacional - durante as eleições do Inter cheguei a utilizar, como tantos outros colorados, meu Twitter para defender sua candidatura. Não que isso qualifique a crítica... Na verdade não quer dizer absolutamente nada - mas impede que o contraponto seja feito buscando a desqualificação da crítica, transformando-a em "papo de gente que é contrária a gestão"...

Pela primeira vez falo sobre o Internacional aqui no blog - o que deve servir de ilustração para a gravidade do assunto: a reforma do estádio para a Copa 2014. Dos três caminhos possíveis, Luigi defende e força o clube a trilhar o pior de todos, ou seja, entregar a exploração do Beira-Rio para uma construtora durante 20 anos.

As outras duas possibilidades seriam a reforma com recursos próprios ou buscar financiamento em entidades de crédito.

A opção de Luigi - a parceria com uma construtora - poderia ser chamado de cavalo de Tróia, não fosse tão escarrado que se trata de uma fria pesada. Não existe nem a aparência externa de uma boa idéia - além de que cheira mal, muito mal.

Existem muitas questões obscuras nessa "parceria" que bem pode ganhar a alcunha de "privataria". Em primeiro lugar, existe a questão da construtora: Por que a FIFA e a CBF exigem que seja especificamente a Andrade Gutierrez? Por que Luigi entoa o cântico e defende também a Andrade Gutierrez? Será que a construtora possui relações "próximas" de Ricardo Teixeira e Luigi como possuía com Paulo Preto, aquele "arrecadador" das obras do Rodoanel de São Paulo?

O potencial do Beira-Rio pós-reforma durante os próximos 20 anos atinge conservadoramente a cifra de R$ 1 bi. Isso mesmo, 1 bilhão de reais. O valor da reforma é de R$ 250 milhões, sendo que a polêmica gira em torno de apenas R$ 100 milhões, considerando que o valor restante já possui fonte. Ou seja: Luigi quer trocar R$ 1 bilhão por R$ 100 milhões.

O plano da gestão anterior, capitaneada por Vitório Píffero, era realizar a reforma com receitas próprias - o que também não me parece uma boa opção pelo risco de quebrar o caixa e pela certa fragilização excessiva do futebol colorado.

A melhor opção é o financiamento. Isso representa endividamento do clube e é o maior argumento da turma de Luigi para descartá-la. Endividamento sim, e daí? A questão não é o quanto o clube vai se endividar, mas se o endividamento poderá ser arcado pelos cofres do clube - e isso está bem claro ser possível, inclusive sem a necessidade de tocar nas receitas atualmente revertidas para o futebol do clube.

Em primeiro lugar, o BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - ofereceu à todos os estádios da Copa 2014 financiamentos com juros "de pai para filho", ou seja, bem abaixo dos valores de mercado. O BNDES costuma ser bastante flexível nas negociações, afinal de contas, existe justamente para facilitar as obras de interesse nacional - caso da reforma do estádio Beira-Rio. Sendo assim, prazos de carência podem ser negociados sem grande dificuldade, permitindo que o Inter somente comece a pagar o financiamento com a obra já concluída.

No limite, 3 anos de arrecadação do estádio já seriam suficientes para pagar o financiamento do BNDES, restando 17 anos de exploração em receitas limpas diretas no caixa do clube. Estes 20 anos de exploração do Beira-Rio - R$ 1 bilhão - representam cerca de R$ 50 milhões por ano. Para ilustrar o que esse dinheiro representa, o Internacional tem equilibrado as finanças com a venda de "um craque por ano", por cerca de metade desse valor.

Manter esses R$ 50 milhões por ano nos cofres colorados não é endividamento, é INVESTIMENTO - e de relativamente curto prazo. É um investimento que "se paga" em apenas 3 anos!

Realizar a obra com o financiamento do BNDES vai garantir que o Internacional não precise mais vender um Alexandre Pato após apenas uma partida como profissional para "equilibrar as finanças". Se esse aporte de R$ 50 milhões por ano fosse uma realidade hoje, talvez a dupla de ataque do Inter fosse Alexandre Pato e Nilmar! Ambos saíram do Inter por exigências de caixa do clube...

A gravidade da situação é enorme. O futuro do Inter se divide em dois caminhos absolutamente diferentes. Ao entregar a exploração do estádio para a Andrade Gutierrez, o Internacional seguirá com o mesmo caixa deficitário que exige a venda de um jogador por ano, seguirá sendo o mesmo clube que forma craques sem ter o prazer de vê-los amadurecer e atingir o auge de suas carreiras no gramado colorado. Nesse caso, de que adianta o "não-endividamento"? É como o empresário que não compra máquinas para ampliar a produção porque não quer endividar-se. Na verdade é até pior que isso: É expandir o negócio abdicando de 100% dele por 20 anos. Que sentido tem isso?

O outro caminho do Inter é ir atrás do financiamento que o BNDES já ofereceu e investir em seu próprio patrimônio. Ao invés de valorizar jogadores para vendê-los para a Europa, o Internacional tem, ao não entregar o seu estádio para a Andrade Gutierrez, as condições econômicas para manter seus jogadores - que só sairão por desejo do clube ou vontade própria. Mesmo que o cinto aperte um pouco no decorrer da obra, não pode ser comparado com os R$ 50 milhões anuais nos cofres do futebol!

Entregar o Beira-Rio para uma construtora por 20 anos é SIM, uma privatização do estádio - sem retorno! O Inter estará trocando seu estádio, sua casa, por uma reforma que o transformará em inquilino por 20 anos. Não vale dizer que daqui a 20 anos o Inter poderá explorar a estrutura... Em primeiro lugar, daqui a 20 anos, muitas reformas precisarão ser feitas em manutenção - alguém acha que a Andrade Gutierrez fará reformas para entregar o Beira-Rio em dia? Daqui a 20 anos o Beira-Rio será novamente um estádio obsoleto em termos de conforto, tecnologias - possivelmente em termos de infraestruturas de segurança, imprensa, etc...

Mas o pior mesmo é que 20 anos é uma vida - o que torna de fato, o negócio na entrega privatista do patrimônio colorado. Daqui a 20 anos eu serei quase cinquentenário, muitas crianças que estão nascendo enquanto escrevo este texto já serão pais e mães, o próprio Giovanni Luigi talvez nem mesmo esteja aqui para testemunhar o estrago de sua ação irresponsável como presidente.

Essa decisão será muito cara ao Internacional. Por isso até mesmo o Conselho Deliberativo carece de suficiente legitimidade para decidir sobre algo que não poderá ser desfeito e que, seja o caminho que for, marcará 20 anos da história do clube, mas que definirá toda a história futura do Internacional pelos próximos 50 anos.

O caminho correto seria que a decisão do CD fosse por um debate amplo com a base social do clube, culminando numa grande consulta ao corpo associado. Se o associado vota para eleger o presidente e os conselheiros do clube para mandatos de 2 anos, é imperativo que tenha o poder de decidir o futuro da instituição pelos próximos 20 anos.

Giovanni Luigi foi eleito para presidir o Inter, mas isso não concede à direção poderes supremos em questões tão graves - mesmo que normalmente os dirigentes pensem que mandato de direção lhes outorga propriedade sobre as instituições - e isso vale para TODOS os clubes - e para seus Conselhos Deliberativos.

Luigi já deu mostras de que não quer ser o presidente que perdeu a Copa no Beira-Rio, mas corre o risco de ser o presidente que privateou (não errei, não é privatizou, é privateou mesmo, de privataria) o maior patrimônio físico do Inter - um patrimônio que foi construído literalmente contando as moedas, construído na base da arrecadação "no chapéu" mesmo...

Essa marca em Luigi será muito mais forte do que o risco de perder a Copa no Beira-Rio. Quando o torcedor se der conta de que perdeu seu estádio, Luigi carregará uma chaga só comparável à de Bandeira, o presidente que rebaixou o Grêmio pela primeira vez na história.

Tenho esperança de que o Conselho Deliberativo do Inter tome a decisão acertada e sepulte de vez essa insanidade inexplicável de entregar o beira-Rio para a Andrade Gutierrez.

1 comentários:

Lúcia Bastos disse...

Mirgon, é sabido que as empreiteras "dividiram" entre si os estádios a serem construidos ou reformados, então, somos "cota" da AG! Financiar a obra pelo BNDES requer oferecer garantias que o Inter não possui, teria que se socorrer de instituições financeiras, teria que empenhar passes de atletas, e quiça o próprio Beira-Rio.
Parceria com AG não transfere Beira-Rio para exploração da empreitera, apenas será por ela explorado aquilo que construir de novo no entorno do complexo Gigante para sempre, mais cadeiras VIP e Golden, e suites dentro do Beira-Rio.
Não acho tão catastrofica assim a situação, considerando que estádio hoje é um canteiro de obras, e não temos sequer dinheiro para reconstruir arquibancada que foi "patrolada" pelo antigo mandatário.
Ser ou não estádio da copa confesso que não me interessa!
Mas ir a jogos como o de hoje, com chuva, em meio ao lamaçal das obras, me incomoda!
Leia post de Alexandre de Santi que indico no meu post: http://coloradasnaarea.blogspot.com/2011/03/heranca-maldita.html#links

10 de março de 2011 às 22:45

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