quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

VILA CHOCOLATÃO: INCENDIO, LUTA E RESISTÊNCIA


Porto Alegre foi surpreendida, essa semana, por uma grande tragédia. O incendio na Vila Chocolatão, no centro da cidade teve como saldo 30 familias desabrigadas e um rastro de destruição onde o fogo passou.

Estive no local no dia da tragédia, a noite, prestando solidariedade às familias. A vila esteva às escuras, pois o incendio danificara a rede elétrica.

Nesse momento, nos cabe sermos solidárias com os moradores da Vila Chocolatão, auxiliando da maneira que nos for possível. Entretanto, para além disso, alguns questionamentos sobre o incendio faz-se necessário:

1) A unidade do Corpo de Bombeiros que atende aquela área situa-se no bairro Praia de Belas. Entre o local do incêndio e os bombeiros existe uma distância de 1 km. No horário não havia engarrafamento, as vias de acesso entre um local e outro são rápidas e não havia qualquer outro incêndio acontecendo na jurisdição daquela unidade. Porque os bombeiros levaram 40 minutos para chegar ao local?

2) Sabendo da gravidade do incendio - lembrando que trata-se de um local onde TODAS as casas são de madeira e que a vila tem sua economia baseada na reciclagem de materiais - porque foi destinado, inicialmente, apenas um caminhão para combater as chamas (e que FALTOU água durante a tentativa de apagar o fogo)?

Aquela área é considerada pela atual administração da Prefeitura de Porto Alegre como uma "área de risco". Não é. Não à razão para ser. A área não oferece nenhum risco. Não há problemas ambientais em ocupar a área. Não há risco de que os moradores sejam, de alguma forma, afetados por tragédias naturais, contaminações ou outras formas de "risco". Nesse caso, o risco é pra quem? talvez seja "área de risco para a especulação imobiliária e os interesses das grandes construtoras".

A decisão das familias em não serem transferidas para o albergão improvisado pela prefeitura no Ginásio Tesourinha tem muito a ver com essa questão. Aliás, só tem a ver com essa questão. Infelizmente, a prefeitura está utilizando-se dessa tragédia para resolver parte do "problema chocolatão", ou seja, retirar as familias daquele lugar e transferi-las para áreas mais distantes, longe das áreas de interesse das grandes construtoras. Aquelas familias sabem que, se arredarem pé, não voltam mais.

Não há razões para que aquelas familias sejam desalojadas do local. Pelo contrário: a Prefeitura de Porto Alegre deve investir em habitação popular e regularização da situação da vila. Toda a região pode - e deve - ser revitalizada, através do planejamento urbano no local, com a abertura de ruas, construção de casas populares de alvenaria, correta instalação da rede elétrica e iluminação pública, rede de água e esgoto, incentivo ao trabalho cooperativado e pequeno comércio local, através da concessão de microcrédito para os moradores da vila e outras medidas sócio-ambientais que podem gerar enormes benefícios, não apenas para essas famílias, mas para todo o conjunto da cidade, em especial o centro da cidade.

Provavelmente essa prefeitura não investirá em seu próprio povo, preferindo ceder às pressões dos conglomerados da construção civil. Se isso acontecer, não há problema: O povo é como bambu - verga mas não quebra. Levantarão suas casinhas novamente, da forma que der e aguardarão, afinal, "amanhã, mesmo que uns não queiram, será de outros que esperam ver o dia raiar".

Força Vila Chocolatão!

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