quarta-feira, 30 de junho de 2010

AS RESERVAS DO AFEGANISTÃO E A GUERRA AO TERROR

(Esse texto foi escrito como minha colaboração ao Blog Jornalismo B, que convidou-me a fazer uma análise sobre a imprensa – O texto original pode ser lido em Jornalismo B

Alguém ainda lembra-se da invasão dos Estados Unidos ao Afeganistão, com a desculpa de “caçar” Osama Bin Laden – diga-se de passagem, ainda “foragido” – e desarticular a Al-Qaeda?

Claro que todos lembram-se do barbarismo e da fúria com que a “Águia do Norte” comportou-se, como a legítima ave de rapina. Até hoje, passados alguns anos, Bin Laden não foi capturado, a Al-Qaeda segue existindo, a vida da população afegã segue igual – se não pior – e a “guerra ao terror” não cumpriu nenhum dos objetivos da agenda proposta – concorde-se ou não com ela.

Agora – interessante que a “descoberta” coincida com a estabilização de um governo subordinado aos Estados Unidos no Afeganistão – o New York Times publica reportagem sobre um relatório em mãos do governo estadunidense que indicam que o país possui a cifra de aproximadamente R$ 1 trilhão em reservas de lítio, ferro, ouro, nióbio e cobalto, entre outros minerais.

Para que se tenha uma ideia da grandeza, só as reservas de lítio são equivalentes às da Bolívia, atualmente detentora da maior reserva do mineral no mundo. As indústrias automobilística e de equipamentos eletrônicos dependem desse mineral para a fabricação de seus produtos, fazendo desse material um dos mais cobiçados do mundo. Momento bastante propício para a “descoberta” e para a economia dos Estados Unidos. Por um lado, existe a dependência política do governo afegão aos Estados Unidos, de outro a necessidade de investimentos pesados em infra-estrutura para que essas reservas possam ser exploradas e, efetivamente, transformadas em riquezas.

Se alguém lembrou-se da invasão do Iraque, não foi por acaso. Existem muitas semelhanças. A primeira delas é que os objetivos centrais das invasões não foram levados à êxito: A invasão do Afeganistão não acabou com a Al-Qaeda, com os Talibãs ou capturou Osama; A invasão do Iraque não descobriu armas químicas. Aliás, as teses que sustentavam a suspeita sempre foram frágeis e pouco convincentes a qualquer um que saiba somar dois mais dois.

Outra semelhança bastante interessante é que ambos os casos necessitam de infra-estrutura – o que, nos dois casos significa investimentos estrangeiros – e possuem muita, muita riqueza natural, apesar da pobreza de seus povos. No Iraque o petróleo, no Afeganistão essas reservas recém-descobertas.

Chama a atenção, também, a discrição com que a mídia mundial tem cobrado essa política internacional belicista iniciada por Bush e que o “Prêmio Nobel da Paz” (???) Barack Obama tem dado sequência sem alterações relevantes. No máximo, Obama tem tido mais tato que Bush para justificar a tomada das mesmas ações.

Somente para ilustrar essa continuidade dada por Obama, lembro da Base de Guantánamo, até hoje em pleno funcionamento e cometendo as mesmas violações aos direitos humanos.

Enquanto os Estados Unidos continuam invadindo e saqueando países como Afeganistão e Iraque, continuam ameaçando países como Coréia e Irã, continuam com Guantánamo funcionando como palco de tortura, continuam fazendo vistas grossas ao horror que Israel vem cometendo contra a população palestina, as grandes empresas de comunicação do Brasil emprenham-se em criticar a política internacional pacifista, colaborativa e desenvolvimentista que o Brasil vem pondo em prática no cenário mundial.

Só não consegui distinguir ainda se essa prática da mídia está ligada às suas opções ideológicas nacionais ou econômicas internacionais, por conta dos investimentos de multinacionais em publicidade – ou se trata-se das duas coisas.

Seja o que for, a democratização da informação – a partir da internet principalmente – está criando uma geração bem menos ingênua com relação ao que os conglomerados da mídia tentam transformar em “opinião pública”, a partir das suas próprias opiniões e convenções publicadas em seus jornais e revistas e veiculados em seus programas de TV.

O “Cala Boca Galvão” no Twitter é um bom exemplo de que as pessoas agora sentem-se empoderadas e com voz para dizer o que lhes agrada ou não, o que lhes convém ou não, o que concordam ou não. O espaço para manipulação das informações segue reduzindo e colocando a grande mídia na berlinda.

Novos e bons ventos soprando para todos nós. Os tubarões da comunicação que não entenderam a mudança em curso, em breve serão reduzidos à assustados lambaris.




1 comentários:

Miguel Graziottin disse...

Muito bom seu Blog!
Otimo artigo.
Lhe convido a conhecer o meu blog, também na luta de esquerda!
Um abraço
www.miguelgrazziotinonline.blogspot.com

23 de julho de 2010 às 17:28

Postar um comentário