terça-feira, 9 de novembro de 2010

O HUMOR QUE TRAVESTE PRECONCEITOS

O humor - que deveria servir para levar um pouco de graça e leveza à rotina das pessoas - anda, sempre, muito próximo dos nossos preconceitos. Volta e meia ambos misturam-se e trazem a tona nossas maiores vergonhas, nossos piores pensamentos.

O jornal Zero Hora de ontem (08/11/10) estampou mais uma criação do chargista Marco Aurélio - bastante tradicional no veículo, nem tanto pela graça de suas charges, e sim por sua fidelidade ideológica às linhas de pensamento mais conservadoras da direita gaúcha.Marco Aurélio costuma fazer piadas sem qualquer graça, mas com uma carga ideológica muito forte, muitas vezes carregadas pelo que há de mais preconceituoso.

Depois de uma história recheada por piadas homofóbicas, racistas e intolerantes religiosa e politicamente, Marco Aurélio resolveu colocar todo seu preconceito estético e - o que é pior - machista. A charge na página 03 de Zero Hora traz Lula conversando com o leitor de um jornal. O leitor na charge pergunta à Lula: "Viste a foto da Dilma de biquíni na Folha?" que responde "Pra vocês verem o peso que eu carreguei durante a campanha".

Marco Aurélio libera todo seu preconceito travestido em humor, de uma só vez, contra as mulheres e contra os que não estão alinhados em padrão estético que mereça respeito - leia-se os gordinhos, estes ridículos. Marco Aurélio desfaz-se das mulheres, despejando seu machismo numa redução de Dilma, como mulher, à um peso carregado por Lula - peso no sentido literal - esquecendo-se de todo o peso intelectual que a recém-eleita presidenta do Brasil possui, esquecendo-se de sua importância à luta das mulheres por igualdade, à luta da esquerda por um Brasil melhor, à luta dos pobres desse país por um pouco de dignidade e oportunidades.

A violência de Marco Aurélio - que se desfaz da mulher intelectualmente é que menospreza as mulheres que não seguem os padrões estéticos - é o exemplo maior do humor que serve para travestir nossos preconceitos de forma socialmente aceita - o que os humoristas costumam chamar de "liberdade de expressão" e que ao menor sinal de crítica invocam a ditadura, comparando as críticas à censura dos militares.

A tristeza maior dessa charge é perceber a formatação do calabouço medieval que é a mente de Marco Aurélio. A tragédia consiste em perceber que - a julgar pelos fãs do chargista - uma parcela expressiva da nossa sociedade ainda separa as mulheres entre as que serão alvo do machismo que trata as mulheres como objetos sexuais e o machismo que agride e humilha as mulheres que não se encaixam no padrão estético do primeiro grupo.

A parcela da população que é representada por Marco Aurélio é a mesma que achou engraçado e até colou,  na campanha eleitoral de 2006, adesivos de uma mão com quatro dedos e uma tarja vermelha atravessando o adesivo, numa clara agressão à Lula, utilizando como a característica do "nunca mais", justamente a deficiência que possui.

A parcela da população que é representada por Marco Aurélio é a mesma que achou muita graça na agressão ao mendigo que foi urinado e teve seu corpo pintado em Porto Alegre, um tempo atrás (leia A Vergonha de Todos Nós).

A parcela da população que é representada por Marco Aurélio é a mesma que acha engraçado fazer piadas sobre negros, judeus, pobres, portadores de necessidades especiais, homossexuais, etc... São aqueles que ensinam seus filhos a praticar bullying contra os diferentes em suas escolas, são aqueles que tem suas portas sempre abertas à xenofobia. Marco Aurélio expôs as entranhas onde todos guardamos nossas vergonhas, nossos preconceitos.

A parcela da população que é representada por Marco Aurélio é recheada por Mayaras Petrusos e uma legião de imbecis que vê graça onde só existe violência e - muitas vezes - sofrimento. 

A parcela da população que é representada por Marco Aurélio tem muito a aprender com a parcela que disse "Sim, mulher pode".

13 comentários:

Marinha disse...

Uau! Adorei! Texto muito bem fundamentado. Irei divulgar.
Bj

9 de novembro de 2010 às 13:46
Anônimo disse...

Acho que teu sectarismo de esquerda provoca perda de seu senso de humor. Convenhamos.....deixa de ser pudico....

9 de novembro de 2010 às 21:11
Renata disse...

Mais um censorzinho comunista querendo definir o que eu posso ler. Não quer ver charge dele? simples, não compra o jornal.
vcs petistas são todos filhotinhos da ditadura comunista. são iguais aos militares, só muda a cor da roupa.

9 de novembro de 2010 às 23:30
Abaixo a censura petista! disse...

IMPRENSA LIVRE!!!!

Sabe o que é isso? Um país só é livre de verdade quando a imprensa é livre!

Vc tem o direito de criticar quem quiser, mas não tem o direito de censurar o trabalho sério de jornalistas!

9 de novembro de 2010 às 23:33
Paulo César disse...

Como vc pode falar em liberdade se vc defende a censura aos humoristas? Se defende censura aos humoristas, vai pedir o que para nós? Paredão de fuzilamento por te criticar?

9 de novembro de 2010 às 23:36
Anônimo disse...

Quem falou em censura ao humorista??? O que foi emitido aqui pelo autor do blog foi sua opinião que é tão livre quanta a de quem fez a charge. Se você se ofende tanto com o que foi escrito aqui... simples. Não leia o blog. Liberdade de imprensa é também, e acima de tudo, a liberdade dos blogueiros e internautas.

9 de novembro de 2010 às 23:53
lucila disse...

Liberdade de imprensa é... liberdade para mentir, omitir, humilhar, desprezar, ofender, agredir. Se a imprensa pode cometer isso com papel e tinta, com som e imagem, com bites e bytes, os cidadãos estão livres para cometer o mesmo com a voz, as mãos, os pés, pedras e paus. Então, é isso? viva a liberdade de imprensa e de expressão, morte ao diferente?

(perguntinha: por que a direita não pode ouvir/ler qualquer crítica sem falar logo em censura? quem é que gosta de censura?)

Mirgon, ótimo texto!

10 de novembro de 2010 às 00:46
Claudinha disse...

http://dialogico.blogspot.com/2010/11/daquele-chargista-que-desenha-mal-pra.html

10 de novembro de 2010 às 03:00
rodrigo aguiar disse...

o texto não sugere que a charge seja censurada. apenas faz um comentário sobre as idéias lançadas por ela. parece claro, mas percebo que alguns leitores possuem sério problema de interpretação de texto. não é censura com eles, viu? podem continuar a entender apenas o que desejarem, viu? calminhos, viu?

10 de novembro de 2010 às 10:54
Denise do Amaral disse...

Perfeito seu artigo . Não li o do jornal, mas pelo seu, deu bem pra entender o teor da charge e os comentários . E me ponho bem à vontade,pq não sou do RGS, nem petista, aliás tenho minhas opiniões, que não estão ligadas à nenhum partido político e criticar preconceito não tem nada a ver com política e sim com humanidade . Adorei o que escreveu , independente de vc ser da esquerda, direita, centro , etc ...Parabéns ...Bjs

10 de novembro de 2010 às 11:36
Ronaldo disse...

Essa é bem a tática petistóide. Vem um petralha censor se dizendo a favor da democracia querendo censurar a imprensa. Logo depois vem uma petralha truculenta da tropa de choque incitar a violência como essa lucila mais acima.

Dá-lhe Marco Aurélio que usa o humor para desmascarar a máfia petista! País livre imprensa livre!!!!! FORA PETRALHADA MENSALEIRA!!!!!!!!!!

10 de novembro de 2010 às 11:52
Erica disse...

Liberdade de imprensa ou liberdade da imprensa??? esse povo sempre protege o "patrão", na hora de proteger alguém mais fraco, seja quem for, fingem que não é com eles, o legal é tirar sarrinho barato as custas dos outros. E mais, se julgam no direito de criticar mas não permitem crítica, bradando sempre a bandeira da liberdade de expressão, sendo que somente eles podem dizer o que querem. Eles tb. não sabem perder e seu conceito de democracia está diretamente ligado à seus próprios umbigos. Tem gente aqui até parecem os pityboys bombadinhos de SP, bando de porcos chauvinistas.

10 de novembro de 2010 às 14:46
jairo santos disse...

Ditadura comunista, petralha censor, petralhada mensaleira. Parece que estou lendo os colunistas do PIG. Qualquer critica feita, lá vem o chavão - querem acabar com a liberdade de imprensa. Deveriam ter aproveitado o Seminário Internacional que terminou ontem, em Brasilia,
para dar uma arejada nas idéias.

11 de novembro de 2010 às 16:55

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